UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS – CAV MEDICINA VETERINÁRIA EMANUELLA GUSSO RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO: Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais LAGES 2025 EMANUELLA GUSSO RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO: Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Relatório de Estágio Curricular Obrigatório Supervisionado apresentado ao Curso de Medicina Veterinária do Centro de Ciências Agroveterinárias, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do grau de Médica Veterinária. Orientador: Ademar Luiz Dallabrida. LAGES 2025 Dedico este trabalho em memória de minha avó Sofia que plantou o amor e cuidado pelos animais em meu coração. Aos meus pais, Elvio e Sidineia, que enfrentam todas as barreiras para que meus sonhos se realizem e ao meu avô Alaercio (em memória). AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus, por me dar a dádiva da vida e renová- la diariamente, me capacitando e mostrando os caminhos a serem seguidos. Agradeço a Ele por cada pessoa que passou em minha vida durante esses anos de graduação, as quais foram para mim sinônimo de força, conhecimento, inspiração e resiliência. Por me mostrar a cada dia o motivo de estar aqui e o quanto ainda tenho a evoluir. Agradeço aos meus pais, que tantas vezes deixaram seus planos e sonhos de lado para que os meus se realizassem. Eles que tanto fazem por mim, estando ao meu lado em todas as circunstâncias, e que durante todo esse tempo de graduação, mesmo quando tudo parecia desmoronar, continuaram me dando forças para seguir em frente e me mostraram o quanto sou capaz. Agradeço a eles por cuidarem tão bem dos nossos pets para que eu fizesse minha faculdade com tranquilidade. Amo vocês. Agradeço ao meu namorado, João Henrique, que não desistiu do nosso relacionamento e aceitou viver uma aventura de relacionamento a distância, permanecendo com muito respeito e companheirismo ao meu lado durante esse tempo. Por toda sua força, incentivo em me ver realizar não só um sonho, mas um propósito de vida, me encorajando a não desistir e sempre ir além. Agradeço a ele por sempre olhar pelo melhor lado da situação, por ser casa, por ser alegria, por ser cuidado, por ser motivo de estresse também, mas principalmente por ter o caráter mais integro e coração mais puro que já conheci. Além disso, por cuidar da Helena com tanto amor, e me mostrar que está tudo bem não ser imbatível o tempo todo e recalcular a rota. Agradeço aos meus amigos de Jaraguá do Sul, que mesmo com a distância estiveram presentes em minha trajetória de graduação, não medindo esforços para nos reencontrarmos sempre que possível. Dentre eles gostaria de citar em especial a Amanda, Mateus e Vinicius que não me deixaram desistir na primeira vez que não passei no vestibular, que me incentivaram e incentivam até hoje, e lembram que não é uma “não” da vida que pode me parar. Agradeço as minhas amigas de jornada acadêmica, Amanda, Ana, Elisa e Erica, que dividiram os dias bons e ruins durante este período. Elas foram meu abrigo longe de casa, vibraram comigo cada conquista, passamos muitas perrengues juntas, choramos, mas acima de tudo evoluímos. Agradeço por terem me suportado nos meus dias mais perfeccionista e teimosa. Agradeço aos meus sogros que sempre me apoiaram, que com tanto carinho me acolhem em sua família, demonstrando toda sua torcida pelo meu sucesso. Agradeço em especial a Luciana Barsalobre por todo cuidado e carinho comigo, por ter me acompanhado desde a época de vestibular. Por ela que tanto fez por mim, que foi amiga e confidente, me auxiliando na busca pelo equilíbrio entra a emoção e a razão. Para finalizar não poderia deixar de agradecer a minha tia Cenilda, Sirlei e minha madrinha Marislaine que são canal de amor e força em minha vida, sempre me apoiando e orgulhando-se a cada pequeno passo dado. “Estude como se a vida de alguém dependesse disso” (Sérgio Santalucia, 2022) IDENTIFICAÇÃO DE ESTÁGIO I Nome da estagiária: Emanuella Gusso Área do estágio: Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Instituição: Centro Veterinário Especializado em Cirurgia - CEVEC Endereço: Rua Professor Ulisses Vieira, 1442, Vila Izabel, Curitiba - PR Supervisor de estágio: Medico Veterinário Sérgio Santalucia Professor orientador: Prof. Dr. Ademar Luiz Dallabrida Período de estágio: 06/01/25 a 07/02/2025 Carga horária total: 200 horas IDENTIFICAÇÃO DE ESTÁGIO II Nome da estagiária: Emanuella Gusso Área do estágio: Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Instituição: Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná Endereço: R. dos Funcionários, 1540 - Cabral, Curitiba Supervisor de estágio: Prof. Dr. Rogério Luizari Guedes Professor orientador: Prof. Dr. Ademar Luiz Dallabrida Período de estágio: 10/02/25 a 11/04/2025 Carga horária total: 380 horas RESUMO GUSSO, Emanuella. RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO: CLÍNICA CIRURGICA DE PEQUENOS ANIMAIS. 2025. Graduação em Medicina Veterinária (Relatório de Estágio) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias, Lages, SC, 2025. Este trabalho relata a experiência do estágio curricular obrigatório em Medicina Veterinária, realizado em duas instituições: a Centro Veterinário Especializado em Cirurgia (CEVEC) e o Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV- UFPR), ambas em Curitiba-PR, totalizando 580 horas entre janeiro e abril de 2025. O relatório tem como objetivos: descrever os locais de estágio e a casuística acompanhada; relatar dois casos clínicos cirúrgicos de relevância - um caso de neoplasia de músculo liso intrapélvica associada a megacólon em um canino e um caso de shunt portossistêmico extra-hepático porto-espleno-caval, ambos em caninos. A experiência permitiu o aprofundamento técnico-científico em clínica cirúrgica de pequenos animais, com ênfase em procedimentos complexos e condições patológicas desafiadoras. Os resultados demonstram a importância do estágio curricular na formação prática do médico veterinário, particularmente no desenvolvimento de habilidades em cirurgia de pequenos animais. Palavras-chave: Neoplasia de músculo liso intrapélvica; Megacolon; Pubectomia; Anomalias vasculares portais; Ligadura de shunt portossistêmico. ABSTRACT GUSSO, Emanuella. MANDATORY INTERNSHIP REPORT: SMALL ANIMAL SURGICAL CLINIC. 2025. Undergraduate Thesis in Veterinary Medicine (Internship Report) - Santa Catarina State University, Center of Agricultural and Veterinary Sciences, Lages, SC, 2025. This work reports the experience from the mandatory curricular internship in Veterinary Medicine conducted at two institutions: the Specialized Veterinary Surgery Clinic (CEVEC) and the Veterinary Hospital of the Federal University of Paraná (HV-UFPR), both located in Curitiba, PR, Brazil, totaling 580 hours between January and April 2025. The report aims to: (1) describe the internship locations and monitored casuistry; (2) document two surgically relevant clinical cases - smooth muscle intrapelvic neoplasia associated with megacolon in a canine an extrahepatic portosplenocaval shunt in a dog. The experience enabled technical-scientific advancement in small animal surgical practice, with emphasis on complex procedures and challenging pathological conditions. The outcomes highlight the crucial role of curricular internships in veterinary practical education, particularly in developing small animal surgical skills. Keywords: Intrapelvic space-occupying mass; Megacolon; Pubic symphysiotomy; Portal vascular anomalies; Portosystemic shunt ligation. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Fachada do Centro Veterinário Especializado em Cirurgia - CEVEC ....... 19 Figura 2 - Recepção do Centro Veterinário Especializado em Cirurgia – CEVEC. Imagem representando a farmácia conjunta a recepção (A) e a sala de espera (B). 20 Figura 3- Consultórios médicos em que são atendidos cães e gatos e utilizados pelos especialistas da clínica. ............................................................................................. 21 Figura 4- Sala destinado ao armazenamento de medicamentos controlados e realização de hemogasometria (A). Sala para exames de imagem (B). ................... 22 Figura 5 – Imagem das acomodações dos pacientes felinos e área destinada ao preparo de refeições dos paciente (A). Leitos para cães de até 10kg, até 20kg e acima de 20kg (B). ............................................................................................................... 23 Figura 6 - Área destinada ao corpo clínico e os leitos para caninos logo ao lado (A). Ilha central usada para procedimentos ambulatoriais (B). ........................................ 24 Figura 7 - Elevador para acesso à área cirúrgica (A). Ambiente para planejamento cirúrgico (B). Espaço para preparo dos pacientes (C). Área de Paramentação (D). . 25 Figura 8 - Ambiente separado para esterilização de materiais (A e B). Dois centros cirúrgicos (C e D). ..................................................................................................... 26 Figura 9 - Fachada do Hospital Veterinária da Universidade Federal do Paraná.. .... 33 Figura 10 - Entrada da recepção (A). Área de espera e atendimento ao público (B e C). Corredor de acesso aos consultórios (D). ........................................................... 34 Figura 11 - Consultório das áreas de clínica cirúrgica, ortopedia e neurologia (A). Consultório da área de clínica médica (B). Consultório de odontologia (C). Setor de oftalmologia (D). Espaço das áreas de oncologia e fisiatria (E). Espaço secundário destinado a clinica médica (F). .................................................................................. 35 Figura 12 - Pronto atendimento animal (A). Unidade de Terapia Intensiva (UTI) (B). 36 Figura 13 - Sala de procedimento individualizada (A). Farmácia institucional (B). .... 37 Figura 14 - Internamento destinado ao setor de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais (A). Gatil para internamento de pacientes da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica (B). .................................................................................................................................. 37 Figura 15 - Centro cirúrgico I (A). Centro cirúrgico II (B). Centro cirúrgico III (C). Sala destinada a procedimentos pré-operatórios e estabilização pós operatória (D). ....... 39 Figura 16 - Sala para esterilização de materiais (A). Espaço para armazenamento de materiais estéreis (B). Área de expurgo (C). Ambiente de paramentação cirúrgica (D). .................................................................................................................................. 40 Figura 17 - Espaço para discussões de casos clínicos (A). Sala de radiografia (B). Sala principal de ultrassonografia (C). Sala secundária de ultrassonografia (D). .............. 41 Figura 18- Representação esquemática da secção transversal do intestino. ........... 52 Figura 19- Representação esquemática do Íleo (7); ceco (8); cólon ascendente (9); Cólon transverso (10); Cólon descendente (11); artéria mesentérica cranial (16); artéria ileocólica (17); artéria cólica direita (18); artéria cólica esquerda (19); artéria mesentérica caudal (20); artéria retal caudal (21). .................................................... 53 Figura 20- Visualização cranioventral dos ossos coxais de um cão. ......................... 54 Figura 21- Vista medial de uma secção paramediana dos ossos coxais, sacro e vertebras caudais de um cão. ................................................................................... 54 Figura 22- Representação da técnica de pubectomia descrita por Fossum (2021). . 68 Figura 23- Reimplantação púbica por meio de fios de cerclagem realizada por Bonatto et al. .......................................................................................................................... 69 Figura 24 - Imagens da tomografia computadorizada realizada 60 dias antes da cirurgia. ..................................................................................................................... 73 Figura 25- Agulha demonstrando os orifícios realizados nos locais previamente determinados para osteotomia púbica. ..................................................................... 74 Figura 26- Dissecção de estruturas adjacentes ao púbis possibilitando sua completa remoção. ................................................................................................................... 75 Figura 27 – Exposição do megacólon. ...................................................................... 75 Figura 28 - Massa intrapélvica medindo 8,1x4,8x6cm que obstruía mecanicamente o lúmen do cólon descendente. (A) Demonstração da localização da neoplasia. (B) comparação do tamanho da massa. ......................................................................... 76 Figura 29- Restituição do púbis utilizando cerclagem metálica. ................................ 77 Figura 30- Histopatológico da neoplasia intrapélvica do paciente Hulk. .................... 83 Figura 31- Anatomia hepática canina ........................................................................ 90 Figura 32- Formação da veia porta. .......................................................................... 91 Figura 33 - Esquema dos DPS descritos em cães e gatos. (A) Desvio portocaval. (B) Desvio portoázigos. (C)Desvio gastrocaval esquerdo. (D) Desvio esplenocaval. (E) Veia mesentérica cranial, mesentérica caudal e veia gastroduodenal. (F) Combinações das veias anteriores. .......................................................................... 93 Figura 34- Representação de shunt esplenocaval devido a comunicação patológica (vermelho). ................................................................................................................ 94 Figura 35- Ilustração de anel ameroide. .................................................................... 98 Figura 36- Demonstração da banda de celofane e sua oclusão com hemoclips. ..... 99 Figura 37 - Tomografia computadorizada evidenciando o vaso anômalo medindo 7,7mm de diâmetro com trajeto emergindo da face esquerda da veia porta, desviando- se lateralmente próximo ao estômago, onde recebe as tributárias das veias esplênica e gástrica esquerda, tendo seu trajeto continuado dorsalmente e inserindo-se na veia cava caudal pré-hepática com diâmetro de 6,5mm. ................................................ 102 Figura 38- Shunt portossitêmico extra-hepático esplenocaval com envolvimento da veia esplênica e gástrica.. ....................................................................................... 105 Figura 39- Posicionamento da banda de celofane, delimitando espessura por meio de um dilatador de uretra e fixação com hemoclipe. .................................................... 105 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Casuística acompanhada na CEVEC durante o período de 06 de janeiro de 2025 a 07 de fevereiro de 2025 de acordo com o sistema acometido, representada por meio de porcentagem. .................................................................. 32 Gráfico 2 - Procedimentos e cirurgias acompanhados considerando os sistemas orgânicos envolvidos representada por meio de porcentagem. ................................ 32 Gráfico 3- Casuística acompanhada no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná durante o período de 10 de fevereiro de 2025 a 11 de abril de 2025 de acordo com o sistema acometido, representada por meio de porcentagem. ............ 50 Gráfico 4 - Cirurgias/Procedimentos acompanhados pela estagiária no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná do dia 10 de fevereiro de 2025 ao dia 11 de abril de 2025. ................................................................................................... 50 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Afecções acompanhadas no estágio curricular supervisionada realizado no período de 06 de janeiro a 07 de fevereiro de 2025 no CEVEC classificados por sistemas acometidos. ................................................................................................ 27 Tabela 2- Cirurgias acompanhados no estágio curricular supervisionado realizado no período de 06 de janeiro a 07 de fevereiro de 2025 no CEVEC, classificados por sistemas acometidos. ................................................................................................ 29 Tabela 3- Afecções acompanhadas no estágio curricular supervisionado realizado no período de 10 de fevereiro a 11 de abril de 2025 no Hospital Veterinário da UFPR, classificados por sistemas acometidos. .................................................................... 42 Tabela 4 - Cirurgias/Procedimentos acompanhados no período de 10 de fevereiro a 11 de abril de 2025 no Hospital Veterinário da UFPR, classificados por sistemas acometidos. ............................................................................................................... 46 Tabela 5 - Demonstração dos graus de malignidade de STM’s conforme suas respectivas características. ....................................................................................... 56 Tabela 6- Critérios para estadiamento de STMs. ...................................................... 58 Tabela 7- Estádios de Sarcoma de Tecidos Moles. ................................................... 59 Tabela 8 - Resultados do hemograma completo realizado no dia 22 de janeiro. ...... 78 Tabela 9 - Resultados da análise bioquímica do dia 22 de janeiro. ........................... 79 Tabela 10– Resultados da hemogasometria pós-operatóra . .................................... 79 Tabela 11- Resultados do hemograma controle realizado dia 24 de janeiro. ............ 81 Tabela 12- Resultados do hemograma controle, contagem de reticulócitos e albumina do dia 27 de janeiro. .................................................................................................. 82 Tabela 13- Teste de estimulação com ácidos biliares e dosagem da amônia sérica realizados no dia 16 de janeiro de 2025. ................................................................. 101 Tabela 14 - Resultados do hemograma completo realizado em 10 de março. ........ 103 Tabela 15- Resultados da análise bioquímica realizada em 10 de março. .............. 104 Tabela 16- Resultados da urinálise realizada em 13 de março. .............................. 106 Tabela 17- Resultados do hemograma completo realizado em 13 de março. ......... 107 Tabela 18- Resultados da análise bioquímica realizada em 10 de março. .............. 108 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ALT Alanina Aminotransferase BID Bis In Die – duas vezes ao dia Bpm Batimentos por minuto CEVEC Centro Veterinário Especializado em Cirurgia DMH Displasia Microvascular Hepática DPS Desvio Portossistêmico DPEHC Desvios Extra-Hepáticos Congênitos DPEHA Desvios Extra-Hepáticos Adquiridos DPIHA Desvios Extra-Hepáticos Adquiridos DPIHC Desvios Intra-Hepáticos Congênitos EH Encefalopatia Hepática FA Fosfatase Alcalina FC Frequência cardíaca FR Frequência respiratória GABA Ácido Aminobutírico HPF High-Power Field Ht Hematócrito HV/UFPR Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná IV Intravenoso mmHg Milímetros de mercúrio mpm Movimentos por minuto OMS Organização Mundial da Saúde PA Pronto Atendimento PAS Pressão Arterial Sistólica PAAF Punção Aspirativa por Agulha Fina PDS Polidiaxonona SAMe S-adenosilmtionina SC Subcutâneo SID Semel In Die – uma vez ao dia STMs Sarcoma de Tecidos Moles TC Tomografia computadorizada TID Ter In Die – três vezes ao dia TMBNP Tumor Maligno da Bainha de Nervo Periférico TPLO Tibial Plateau Leveling Osteotomy UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina US Ultrassom abdominal UTI Unidade de Terapia Intensiva VO Via oral SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 17 2. LOCAL DE ESTÁGIO ............................................................................................................... 18 2.1. CENTRO VETERINÁRIO ESPECIALIZADO EM CIRURGIA– CEVEC .................... 18 2.1.1. Descrição do Local ..................................................................................................... 19 2.1.2. Atividades desenvolvidas .......................................................................................... 26 2.1.3. Casuística acompanhada no Centro Veterinário Especializada em Cirurgia – CEVEC 27 2.2. HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA – HV/UFPR ......................................................................................................................................... 33 2.2.1. Descrição do Local ..................................................................................................... 34 2.2.2. Atividades desenvolvidas .......................................................................................... 41 2.2.3. Casuística acompanhada Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná. 42 3. RELATO DE CASO ................................................................................................................... 51 3.1. NEOPLASIA INTRAPÉLVICA DE MÚSCULO LISO ASSOCIADA A MEGACÓLON EM PACIENTE CANINO ............................................................................................................... 51 3.1.1. Revisão de literatura .................................................................................................. 51 3.1.2. Relato de caso ............................................................................................................ 72 3.1.3. Discussão .................................................................................................................... 84 3.2. SHUNT PORTOSSISTÊMICO EXTRA HEPÁTICO PORTO-ESPLENOCAVAL ..... 89 3.2.1. Revisão de literatura .................................................................................................. 89 3.2.2. Relato de caso .......................................................................................................... 100 3.2.3. Discussão .................................................................................................................. 109 4. CONCLUSÃO FINAL .............................................................................................................. 111 5. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 113 17 1. INTRODUÇÃO A graduação em Medicina Veterinária proporciona a imersão em diversas áreas de atuação, permitindo ao acadêmico identificar aquelas que melhor se alinham ao seu perfil profissional. Independente da especialização escolhida, todas convergem para um objetivo comum: a excelência no cuidado em saúde única, sustentada pelos pilares de ensino, pesquisa e extensão. O estágio curricular obrigatório, realizado no décimo período, consolida essa formação ao possibilitar a aplicação prática do conhecimento teórico em cenários reais. Essa etapa é particularmente crucial na área de clínica cirúrgica de pequenos animais, que demanda não apenas domínio técnico-científico, mas também habilidades decisórias em procedimentos de alta complexidade (Fossum, 2021). Diante disso, este relatório descreve a experiência no Centro Veterinário Especializado em Cirurgia (CEVEC) e no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV/UFPR), instituições selecionadas para vivenciar contrastes entre sistemas público e privado; acompanhar abordagens diversas para afecções complexas e desenvolver networking profissional. Além disso, a escolha foi baseada no fato das instituições terem reconhecida atuação em casos de alta complexidade, oferecendo exposição á patologias que exigem abordagens multidisciplinares. Dentre os casos acompanhados, dois se destacaram por sua complexidade e relevância clínica: um caso de neoplasia intrapélvica de músculo liso associada a megacólon em paciente canino e um caso de shunt portossistêmico extra-hepático porto-espleno-caval, também em um cão. Esses exemplos ilustram os desafios e as recompensas da prática cirúrgica veterinária, além de demonstrar a importância de uma formação sólida e abrangente. Ademais, no decorrer deste relatório serão apresentados os locais de estágios, expondo suas respectivas estruturas bem como a casuística acompanhada. 18 2. LOCAL DE ESTÁGIO 2.1. CENTRO VETERINÁRIO ESPECIALIZADO EM CIRURGIA– CEVEC Inicialmente, o estágio final supervisionado foi realizado do dia 06 de janeiro de 2025 ao dia 07 de fevereiro de 2025, no Centro Veterinário Especializado em Cirurgia – CEVEC localizado na cidade de Curitiba, Paraná. O estágio foi realizado sob a supervisão do Médico Veterinário Especializado Sérgio Santalucia, totalizando 200 horas. O atendimento ao público se dá 24 horas, todos os dias da semana, sendo as consultas e cirurgias especializadas realizadas das 08:00 horas ás 20:00 horas, de segunda a sexta, nos sábados o horário de atendimento é das 08:00 horas as 14:00 horas. Os atendimentos ocorrem através de agendamento prévio, salvo casos emergenciais, sendo que a maior parte dos pacientes são encaminhados de outras clinicas veterinárias. A clínica ainda dispõe do serviço de tele consulta para melhor atender pacientes que moram em outras cidades e/ou estados. A equipe técnica é composta por quinze veterinários, sendo dez especialistas, das áreas de oncologia veterinária, cirurgia reconstrutiva, oftalmologia, cirurgia de tecidos moles, odontologia, anestesia e intensivismo, clínica médica de felinos, diagnóstico por imagem e clínica médica de pequenos animais. Além disso, a clínica conta com veterinários que prestam serviço volante nas áreas de pneumologia, endocrinologia, nutrição animal, cardiologia, ortopedia e gastroenterologia. A fachada do Centro Veterinário Especializada em Cirurgia (CEVEC) está disposta na Figura 1. 19 Figura 1 - Fachada do Centro Veterinário Especializado em Cirurgia - CEVEC Fonte: CEVEC (2024) 2.1.1. Descrição do Local Ao entrar no CEVEC, o visitante se depara com a recepção, a qual possui dois espaços integrados, contendo no hall de entrada o balcão de recepção disposto de uma pequena farmácia acoplada, e no mesmo ambiente se encontra a sala de espera compartilhada entre felinos e caninos e seus respectivos tutores (Figura 2). 20 Figura 2 - Recepção do Centro Veterinário Especializado em Cirurgia – CEVEC. Imagem representando a farmácia conjunta a recepção (A) e a sala de espera (B). Fonte: arquivo pessoal (2025). O centro conta com dois consultórios, onde cães e gatos compartilham dos mesmos espaços e os quais são revezados entre os médicos veterinários das diferentes especialidades (Figura 3). O complexo dispõe de uma sala exclusiva para armazenamento de medicamentos controlados e realização de exames de hemogasometria, cujo acesso é restrito aos médicos veterinários. Adicionalmente, a infraestrutura conta com um ambiente específico para realização de exames de imagem, equipado para procedimentos de ultrassonografia, radiografia e ecocardiograma (Figura 4). 21 Figura 3- Consultórios médicos em que são atendidos cães e gatos e utilizados pelos especialistas do Centro Veterinário Especializado em Cirurgica CEVEC. Fonte: arquivo pessoal (2025). 22 Figura 4- Sala destinado ao armazenamento de medicamentos controlados e realização de hemogasometria do CEVEC (A). Sala para exames de imagem disponível no prédio do CEVEC (B). Fonte: arquivo pessoal (2025). O Centro Veterinário Especializado em Cirurgia (CEVEC) conta com leitos para caninos até 10kg, animais até 20kg e animais acima de 20kg e um espaço adicional para a acomodação de felinos. O local apresenta ainda uma área específica para o preparo e acondicionamento de alimentos dos animais internados (Figura 5). 23 Figura 5 – Imagem das acomodações dos pacientes felinos e área destinada ao preparo de refeições dos paciente (A). Leitos para cães de até 10kg, até 20kg e acima de 20kg (B). Fonte: arquivo pessoal (2025). O setor de internamento conta com um espaço exclusivo destinado ao corpo clínico, onde os médicos veterinários responsáveis pela internação podem acessar o sistema hospitalar, discutir casos clínicos e realizar atividades administrativas. Complementando as instalações, há uma ilha central integrada, usada para a realização de procedimentos ambulatoriais, como coleta de sangue, sondagem nasoesofágica e sondagem uretral. (Figura 6). 24 Figura 6 - Área destinada ao corpo clínico e os leitos para caninos logo ao lado (A). Ilha central usada para procedimentos ambulatoriais (B). Fonte: arquivo pessoal (2025). O internamento possui um acesso ao centro cirúrgico por meio de um elevador, facilitando a preparação do paciente e aumentando a biosseguridade das áreas cirúrgicas. No andar superior a clínica conta com ambiente para o planejamento cirúrgico e um espaço dedicado ao preparo dos pacientes (Figura 7). A infraestrutura inclui ainda uma área de paramentação (Figura 7), dois espaços independentes para esterilização de materiais e dois centros cirúrgicos completos (Figura 8), garantindo fluxo adequado de pacientes e profissionais mantendo os rigorosos padrões de assepsia necessários para procedimentos cirúrgicos. 25 Figura 7 - Elevador para acesso à área cirúrgica (A). Ambiente para planejamento cirúrgico (B). Espaço para preparo dos pacientes (C). Área de Paramentação (D). Fonte: arquivo pessoal (2025). 26 Figura 8 - Ambiente separado para esterilização de materiais (A e B). Dois centros cirúrgicos (C e D). Fonte: arquivo pessoal (2025). O centro conta ainda com um segundo prédio de dois andares, sendo este destinado para a área de cozinha, convívio social dos colaboradores e sala de cursos. No piso superior ficam situadas as salas administrativas e o laboratório clínico parceiro Cytovet, sob responsabilidade técnica da Dra. Verônica Castro. 2.1.2. Atividades desenvolvidas As atividades de estágio se iniciavam as 08:00 horas e eram concluídas às 17:00 horas, com intervalo de 1 hora para almoço. Em algumas ocasiões o horário de saída era estendido devido a duração de cirurgias, atendimentos, procedimentos emergenciais e consultas acompanhadas que adentravam o horário das 17:00 horas. Como atividades desenvolvidas durante o estágio pode-se citar: preparação 27 pré-cirúrgica dos pacientes, participação das cirurgias de rotina na função de instrumentadora e auxiliar; acompanhamento de consultas; auxilio em exames de imagem; monitoração dos pacientes internados através da realização de parâmetros pré estabelecidos; coleta de sangue; coleta de material para citologia por meio de técnicas como a punção aspirativa por agulha fina (PAAF), raspado cutâneo e biópsia cutânea, além do acompanhamento e realização de procedimentos ambulatoriais. 2.1.3. Casuística acompanhada no Centro Veterinário Especializada em Cirurgia – CEVEC Durante o estágio realizado no Centro Veterinária Especializada em Cirurgia- CEVEC, foram acompanhados quarenta e sete pacientes, sendo cinco felinos e quarenta e dois caninos. Registraram-se sessenta afecções no total, considerando que alguns animais apresentavam comorbidades. As patologias observadas, categorizadas por sistemas orgânicos, encontram-se discriminadas na Tabela 1. Tabela 1 - Afecções acompanhadas no estágio curricular supervisionada realizado no período de 06 de janeiro a 07 de fevereiro de 2025 no CEVEC classificados por sistemas acometidos. Sistemas acometidos Caninos Felinos Total Auditivo Estenose de Canal Auditivo 2 2 Otite Média 1 1 Oftalmológico Entrópio 1 1 Glaucoma 2 2 Úlcera de córnea 3 3 Hepatobiliar/Endócrino Carcinoma hepatocelular 1 1 Cetoacidose Diabética 1 1 Feocromocitoma 2 2 Gastrointestinal/Digestório 28 Alergia alimentar 2 2 Corpo Estranho Gástrico 1 1 Carcinoma in situ em Glândula salivar 1 1 Fecaloma 2 2 Fratura em 4° Pré-Molar Superior 1 1 Gíardiase 2 2 Megacolon 1 1 Mastocitoma em Cavidade Oral 2 2 Shunt Portossistemico Gastroespleno- Azigos 1 1 Shunt Portossistêmico Pancreatoduodenal 1 1 Shunt Portossistêmico Portocaval 1 1 Palatosquise 1 1 Genitourinário Obstrução Ureteral 1 1 2 Granuloma Ureteral 1 1 Tegumentar Dermatofitose 1 1 Histiocitoma Cutâneo 1 1 Lipoma 3 3 Mastocitoma Cutâneo 4 4 Processo Inflamatório Piogranulomatoso 1 1 Tecido de Granulação Exuberante 1 1 Hemolinfático/Circulatório Hemangiossarcoma Esplênico 1 1 Linfoma 2 2 Quimiodectoma 1 1 29 Neurológico Neurite 1 1 Inconclusivo 1 1 Cinomose 1 1 Reprodutor feminino Carcinoma Mamário 1 1 Mucometra 1 1 Hérnica Perineal 1 1 Musculoesquelético Osteossarcoma 2 2 Sarcoma de Tecidos Moles 1 1 Afecções multissistêmicas Peritonite 1 1 Sepse 2 2 Total 60 Fonte: Elaborado pela autora (2025). Das afecções acompanhadas (60), 81,7% necessitaram de intervenção cirúrgica, conforme detalhado na Tabela 2. Observou-se que, em determinadas situações, houve a necessidade de empregar mais de uma técnica cirúrgica durante um mesmo procedimento operatório. Tabela 2- Cirurgias acompanhados no estágio curricular supervisionado realizado no período de 06 de janeiro a 07 de fevereiro de 2025 no CEVEC, classificados por sistemas acometidos. Cirurgia/Procedimentos acompanhados Caninos Felinos Total Auditivo Meatoplastia de Conduto Auditivo - Técnica de Zepp 1 1 Drenagem e Lavagem Cirúrgica da Bula Timpânica 1 1 30 Oftalmológico Blefaroplastia -Técnica de Hotz- Celsus 1 1 Enucleação Transpalpebral 1 1 Flap de Terceira Pálpebra 3 3 Hepatobiliar/Endócrino Lobectomia hepática parcial 1 1 Gastrointestinal/ Digestório Colotomia 1 1 Correção de Shunt Portossistêmico 3 3 Esplenectomia Total 1 1 Exérese Tumoral 1 1 Gastrotomia 1 1 Sialoadenectomia Parotídea 1 1 Genitourinário Bypass ureteral 1 1 2 Tegumentar Exérese Tumoral 4 4 Desbridamento de Ferida 1 1 2 Retalho Padrão Axial da Artéria Genicular 1 1 Reconstrução de Face 1 1 Hemolinfático/ Hematopoiético Linfadenectomia 5 5 Cardiovascular Garrote de Carótida 1 1 Respiratório Traqueostomia Temporária 1 1 31 Reprodutor Feminino Mastectomia Total 1 1 Herniorrafia Perineal 1 1 Ovariohisterectomia Terapêutica 1 1 Reprodutor masculino Orquiectomia Eletiva 1 1 Musculoesquelético Amputação de Membro Torácico 1 1 Hemimandibulectomia 1 1 Maxilectomia 1 1 Orbiectomia 1 1 Osteossíntese da Sínfise Púbica 1 1 Pubectomia 1 1 Total 49 Fonte: Elaborado pela autora (2025). Para análise epidemiológica, calculou-se a distribuição percentual dos sistemas orgânicos afetados, conforme demonstrado no Gráfico 1. Observou-se maior prevalência de alterações no sistema gastrointestinal/digestório (27%), seguido pelo sistema tegumentar (18%). As demais ocorrências distribuíram-se da seguinte forma: oftalmológico (10%), hemolinfático/circulatório e hepatobiliar/endócrino sendo correspondente a 7% respectivamente. Os sistemas geniturinário, reprodutor feminino, neurológico, musculoesquelético, auditivo e as afecções multissistêmicas corresponderam a 5% das afecções acompanhadas durante o período de estágio obrigatório e o sistema reprodutor masculino teve a significância de 1%. 32 Gráfico 1 - Casuística acompanhada no CEVEC durante o período de 06 de janeiro a 07 de fevereiro de 2025 de acordo com o sistema acometido, representada por meio de porcentagem. Fonte: Elaborada pela autora (2025). Com o objetivo de proporcionar uma melhor compreensão acerca dos procedimentos e cirurgias acompanhados, considerando os sistemas orgânicos envolvidos, optou-se por realizar uma divisão baseada na prevalência dessas intervenções, a qual foi expressa por meio de porcentagens, conforme ilustrado no Gráfico 2. Essa abordagem justifica-se pelo fato de nem todas as afecções atendidas exigirem intervenção cirúrgica, além da necessidade de alguns animais serem submetidos a mais de um procedimento cirúrgico em um mesmo momento operatório. Gráfico 2 - Procedimentos e cirurgias acompanhados considerando os sistemas orgânicos envolvidos representada por meio de porcentagem. Fonte: Elaborado pela autora (2025). Auditivo 5%Oftalmológico 10% Hepatobiliar/Endócrino 7% Gastrointestinal/Digestório 27%Genitourinário 5% Tegumentar 18% Hemolinfático/ Circulatório 7% Neurológico 5% Reprodutor feminino 5% Reprodutor masculino 1% Musculoesquelético 5% Afecções multissistêmicas 5% Auditivo 5% Oftalmológico 11% Hepatobiliar/ Endócrino 2% Gastrointestinal/ Digestório 22% Genitourinário 5% Tegumentar 18% Hemolinfático/ Hematopoiético 11% Cardiovascular 2% Respiratório 2% Reprodutor Feminino 7% Reprodutor masculino 2% Musculoesquelético 13% 33 2.2. HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA – HV/UFPR Entre o período de 10 de fevereiro a 11 de abril de 2025 foi realizado a segunda etapa do estágio curricular obrigatório supervisionado no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV/UFPR), situado no bairro Cabral, Curitiba, Paraná, sendo a fachada ilustrada na figura 9. O atendimento ao público é realizado de segunda a sexta-feira das 07:30 horas até as 19:30 horas, com prévio agendamento. Entretanto, o HV/UFPR conta com serviço de pronto atendimento em que são aceitos atendimentos sem horário marcado e casos classificados como urgência e/ou emergência. Esse serviço funciona das 08:00 às 19:00 e é gerido pelos residentes da especialidade de clínica médica, os quais a depender de cada caso encaminham para as demais especialidades – clínica cirúrgica, oftalmologia, odontologia e oncologia. Os residentes de todas as especialidades, realizam escalas de plantões para atendimento dos animais internados na instituição nos períodos noturnos e finais de semana. Figura 9 - Fachada do Hospital Veterinária da Universidade Federal do Paraná. Fonte: arquivo pessoal (2025). 34 2.2.1. Descrição do Local Ao chegar ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV/UFPR), o visitante encontra duas entradas: uma destinada a profissionais, estagiários e alunos internos, e outra reservada para o atendimento ao público, conforme ilustrado na Figura 10. A recepção voltada ao público dispõe de uma área de espera, uma balança para pesagem prévia dos animais e um corredor de acesso aos consultórios (Figura 10). As áreas de atuação correspondente a clínica médica, oftalmologia e odontologia possuem seus próprios consultórios, enquanto a especialidade de clínica cirúrgica compartilha o mesmo espaço com a especialidade de ortopedia e neurologia. Da mesma forma, o setor de oncologia e fisiatria também contam com um local em comum (Figura 11). Figura 10 - Entrada da recepção (A). Área de espera e atendimento ao público (B e C). Corredor de acesso aos consultórios (D). Fonte: arquivo pessoal (2025). 35 Figura 11 - Consultório das áreas de clínica cirúrgica, ortopedia e neurologia (A). Consultório da área de clínica médica (B). Consultório de odontologia (C). Setor de oftalmologia (D). Espaço das áreas de oncologia e fisiatria (E). Espaço secundário destinado a clinica médica (F). Fonte: arquivo pessoal (2025). Na recepção, é possível acessar o consultório de pronto atendimento, cujo interior está detalhado na Figura 12, e o qual é gerido pelos residentes da especialidade de clínica médica de pequenos animais. Além disso, entre os serviços oferecidos pelo hospital, destaca-se a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a qual é gerenciada pelos residentes da área de anestesiologia (Figura 12). 36 Figura 12 - Pronto atendimento animal (A). Unidade de Terapia Intensiva (UTI) (B). Fonte: arquivo pessoal (2025). O hospital dispõe de uma sala de procedimentos individualizada, destinada à realização de intervenções ambulatoriais que não exigem ambiente estritamente estéril, mas requerem sedação (Figura 13). Os medicamentos utilizados no ambiente hospitalar são adquiridos por meio da farmácia institucional, cuja equipe é responsável pelo controle rigoroso de entrada e saída de fármacos, conforme demonstrado na Figura 13. 37 Figura 13 - Sala de procedimento individualizada (A). Farmácia institucional (B). Fonte: arquivo pessoal (2025). O setor de internamento do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV/UFPR) apresenta uma estrutura segmentada por áreas específicas, compreendendo alas distintas para clínica cirúrgica, clínica médica e infectologia. Além desses espaços, a infraestrutura hospitalar inclui um gatil destinado ao internamento de pacientes felinos, os quais podem estar sob responsabilidade tanto da clínica cirúrgica quanto da clínica médica, conforme ilustrado na Figura 14. 38 Figura 14 - Internamento destinado ao setor de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais (A). Gatil para internamento de pacientes da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica (B). Fonte: arquivo pessoal (2025). O HV/UFPR conta com três centros cirúrgicos que operam em sistema de rodízio, atendendo às demandas da clínica cirúrgica, oncologia, oftalmologia e disciplinas acadêmicas internas, conforme ilustrado na Figura 15. O centro cirúrgico possui uma sala específica para preparo pré-operatório, onde são realizados procedimentos como tricotomia, acesso venoso periférico e administração de medicação pré-anestésica (MPA). Esta mesma sala assume função adicional no pós-operatório imediato, servindo como área de recuperação para pacientes que apresentam complicações como hipotermia ou instabilidade hemodinâmica, conforme demonstrado na Figura 15. 39 Figura 15 - Centro cirúrgico I (A). Centro cirúrgico II (B). Centro cirúrgico III (C). Sala destinada a procedimentos pré-operatórios e estabilização pós operatória (D). Fonte: arquivo pessoal (2025). O centro cirúrgico do HV/UFPR apresenta uma organização meticulosa de suas áreas limpas, compreendendo uma sala dedicada à esterilização de materiais, um espaço específico para armazenamento de materiais estéreis, área de expurgo e ambiente destinado à paramentação da equipe, conforme ilustrado nas Figuras 16A, 16B, 16C e 16D, respectivamente. 40 Figura 16 - Sala para esterilização de materiais (A). Espaço para armazenamento de materiais estéreis (B). Área de expurgo (C). Ambiente de paramentação cirúrgica (D). Fonte: arquivo pessoal (2025). Complementando a infraestrutura do HV/UFPR, o setor de diagnóstico por imagem apresentando um espaço dedicado para discussões clínicas, uma sala equipada para radiografia e duas salas de ultrassonografia, conforme demonstrado na Figura 17. Adicionalmente, o hospital dispõe de setores especializados em cardiologia, além de laboratórios completos para patologia clínica e patologia geral, 41 que oferecem suporte diagnóstico integral aos diversos serviços veterinários prestados pela instituição. Figura 17 - Espaço para discussões de casos clínicos (A). Sala de radiografia (B). Sala principal de ultrassonografia (C). Sala secundária de ultrassonografia (D). Fonte: arquivo pessoal (2025). 2.2.2. Atividades desenvolvidas O período de estágio tinha início às 08:00 horas e se encerrava às 17:00 horas, incluindo um intervalo de uma hora para almoço. No entanto, em determinadas situações, o horário de saída era prolongado em decorrência de cirurgias de longa duração, atendimentos emergenciais ou consultas que se estendiam além do horário previsto. 42 Dentre as atividades desempenhadas pela estagiária, destacou-se a realização de tricotomias e a organização do material cirúrgico no período pré-operatório, além da participação em procedimentos cirúrgicos de rotina, atuando como cirurgiã em procedimentos eletivos, auxiliar ou volante. Também foi responsável pelo acompanhamento de consultas, auxiliando na anamnese e na realização de exames complementares, como os de imagem. Na rotina de internação, monitorou pacientes, aferindo parâmetros clínicos e administrando medicamentos. Além disso, executou coletas laboratoriais, incluindo coleta de sangue, punção aspirativa por agulha fina (PAAF), raspado cutâneo e biópsia de pele, bem como auxiliou em procedimentos ambulatoriais. Dessa forma, a estagiária teve a oportunidade de vivenciar diversas etapas do atendimento veterinário, consolidando sua formação prática na área. 2.2.3. Casuística acompanhada Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná. No Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, foram acompanhados os setores de clínica cirúrgica de pequenos animais, oncologia, neurologia e ortopedia. No período de 10 de fevereiro a 11 de abril de 2025, cento e três pacientes foram avaliados, sendo dezenove felinos e oitenta e quatro caninos. Registraram-se cento e vinte e oito afecções no total, uma vez que alguns animais apresentavam alterações concomitantes. As patologias observadas, categorizadas por sistemas orgânicos, estão detalhadas na Tabela 3. Tabela 3- Afecções acompanhadas no estágio curricular supervisionado realizado no período de 10 de fevereiro a 11 de abril de 2025 no Hospital Veterinário da UFPR, classificados por sistemas acometidos. Sistemas acometidos Caninos Felinos Total Auditivo Otohematoma 2 2 Oftalmológico Carcinoma de Células Escamosas 1 1 Glaucoma Crônico 1 1 Úlcera de Córnea 1 1 43 Mastocitoma Palpebral 1 1 Xantogranuloma 1 1 Protrusão de glândula de terceira pálpebra 1 1 Hepatobiliar/Endócrino Carcinoma Hepatocelular 1 1 Nódulo Hepático 1 1 Gastrointestinal/ Digestório Carcinoma de Células Escamosas 1 1 Corpo Estranho Gástrico 2 1 3 Corpo Estranho Gastroduodenal 1 1 2 Doença Inflamatória Intestinal 1 1 Hemorragia Mesentérica 1 1 Melanoma 1 1 Neoplasia Mesenquimal Maligna 1 1 Prolapso Retal 1 1 Rânula 1 1 Ruptura Gástrica 2 2 Saculite Adanal 1 1 Shunt Portossistêmico Espleno ázigos 1 1 Shunt Portossistêmico Porto-Espleno- Caval 1 1 2 Genitourinário Insuficiência Renal Aguda 2 2 Urocistolitíase 6 6 Uretrolitíase 4 4 Tegumentar Adenoma Cutâneo 1 1 44 Carcinoma Epitelial Maligno 1 1 Ferida Aberta 2 1 3 Hemangioma Cutâneo 1 1 Hemangiossarcoma Cutâneo 1 1 Hernia Umbilical 1 1 Mastocitoma Cutâneo 3 3 Nódulo Cutâneo (inconclusivo) 3 3 Lipoma 4 4 Hemolinfático/ Hematopoiético Linfoma 3 3 Hemangiossarcoma Esplênico 1 1 Hiperplasia Linfoide 1 1 Trombose 1 1 Respiratório Hernia Diafragmática 1 1 2 Cardiovascular Choque hipovolêmico 1 1 Neurológico Automutilação 1 1 Doença do Disco Intervertebral – Cervical 2 2 Doença do Disco Intervertebral Lombossacra 1 1 Doença do Disco Intervertebral Toracolombar 4 4 Hipoplasia Cerebelar 1 1 Síndrome da Disfunção Cognitiva 1 1 Trauma Cranioencefálico 1 1 Reprodutor Feminino 45 Carcinoma Mamário 4 4 Distocia 1 1 Hemometra 1 1 Hiperplasia Endometrial Cística 1 1 Neoplasia de Células Escamosas 1 1 Piometra 7 7 Prenhez 1 1 2 Pseudociese 1 1 Osteossarcoma Mamário 1 1 Reprodutor masculino Mastocitoma em Escroto 1 1 Musculoesquelético Agenesia Membro Torácico 2 2 Artrite Séptica 1 1 Carcinoma de Células Escamosas 1 1 Desvio Varus de Cotovelo 1 1 Disjunção Sacro-Ilíaca 1 1 Displasia de Cotovelo 1 1 Fibrossarcoma Mandibular 2 2 Fratura Mandibular 1 1 Fratura Difisíaria da Tíbia 1 1 Hernia Inguinal 1 1 Hernia Perineal 2 1 Hipodactilia Membro torácico 2 2 Luxação Patelar Grau I 1 1 46 Luxação Patelar Grau II 1 1 Luxação Patelar Grau III 1 1 Luxação Tarso metatarsiana 1 1 Nódulo em Processo Temporal do Zigomático 1 1 Ruptura do Ligamento Cruzado 5 5 Sarcoma de Tecidos Moles 2 2 Osteossarcoma 1 1 2 Trauma Cranioencefálico 1 1 Total 128 Fonte: Elaborado pela autora (2025). Dos cento e três pacientes atendidos, setenta e nove necessitaram de intervenções cirúrgicas, sendo que, em alguns, casos foi necessário realizar mais de uma técnica cirúrgica em um mesmo animal. Os procedimentos e cirurgias acompanhados durante o período de estágio estão detalhados na Tabela 4. Tabela 4 - Cirurgias/Procedimentos acompanhados no período de 10 de fevereiro a 11 de abril de 2025 no Hospital Veterinário da UFPR, classificados por sistemas acometidos. Cirurgias/Procedimentos acompanhados Caninos Felinos Total Auditivo Drenagem de Otohematoma 1 1 Oftalmológico Crioterapia 1 1 Enucleação Subconjuntival 1 1 2 Exérese tumoral 2 2 Redução de Prolapso de Terceira Pálpebra- Técnica de Kaswan e Martin 1 1 Transposição Corneoconjuntival 1 1 47 Hepatobiliar/Endócrino Lobectomia hepática parcial 1 1 Gastrointestinal/ Digestório Correção de Shunt Portossistêmico 2 1 3 Drenagem Aspirativa de Rânula 1 1 Endoscopia 2 2 Enterectomia 1 1 2 Enteroanastomose 1 1 2 Enterotomia 1 2 3 Esofagotomia 2 2 Esplenectomia 1 1 Exérese Tumoral 2 2 Gastrotomia 1 1 1 Gastropexia 2 2 Laparotomia Exploratória 2 1 3 Redução de Prolapso Retal 1 1 Saculectomia 1 1 Genitourinário Cistopexia 1 1 Cistotomia 6 6 Biópsia vesical 1 1 Tegumentar Exérese Tumoral 7 7 Desbridamento de Ferida 1 1 Herniorrafia umbilical 1 1 Hplastia 1 1 48 Reconstrução de focinho 1 1 Retalho de Padrão Axial Epigástrico Superficial Caudal 1 1 Retalho de Padrão Axial Safeno Reverso 1 1 Hemolinfático/ Hematopoiético Linfadenectomia 5 5 Respiratório Correção de hérnia diafragmática 1 1 2 Neurológico Pediculectomia 4 4 Slot Ventral 1 1 Reprodutor Feminino Cesariana 1 1 2 Mastectomia Regional 1 1 Mastectomia Total 3 3 Ovariohisterectomia Eletiva 3 1 Ovariohisterectomia Terapêutica 14 14 Reprodutor masculino Ablação Escrotal 1 1 Herniorrafia perineal 1 1 Orquiectomia Eletiva 4 4 Orquiectomia Terapêutica 2 2 Musculoesquelético Amputação de Membro Pélvico 1 1 Amputação de Membro Torácico 1 1 2 Artrodese Parcial Tíbio Metatársica 1 1 Caudectomia 1 1 49 Estabilização Extracorpórea de Sínfise Mentoniana 1 1 Estabilização Sacro-Ilíaca 1 1 Hemimandibulectomia 1 1 2 Herniorrafia Inguinal 1 1 Herniorrafia Perineal 1 1 Osteotomia Distal de Fêmur 1 1 Osteossíntese de Mandíbula 1 1 Osteossíntese de Tíbia 1 1 Prótese de Ligamento Cruzado Cranial 1 1 TPLO 6 6 Transposição da Crista de Tíbia 1 1 Trocleoplastia 1 1 Total 136 Fonte: Elaborado pela autora (2025). A distribuição dos casos clínicos acompanhados, classificados de acordo com os sistemas orgânicos afetados, está apresentada no Gráfico 3 sob forma de porcentagem. Verificou-se maior prevalência de alterações no sistema musculoesquelético (22%), seguido pelo sistema tegumentar e reprodutor feminino (15%). Os sistemas gastrointestinal/digestório e genitourinário representaram 10% e 9% dos casos, respectivamente, enquanto o sistema neurológico correspondeu a 8% das ocorrências. Os sistemas oftalmológicos e hemolinfático/hematopoiético apresentaram 5% de incidência cada. As afecções de cavidade oral totalizaram 3%, e os sistemas reprodutor masculino, hepatobiliar/endócrino e respiratório representaram 2% cada. Por fim, os sistemas cardiovascular e auditivo apresentaram a menor prevalência, com apenas 1% cada. 50 Gráfico 3- Casuística acompanhada no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná durante o período de 10 de fevereiro a 11 de abril de 2025 de acordo com o sistema acometido, representada por meio de porcentagem. Fonte: Elaborado pela autora (2025). Os procedimentos cirúrgicos acompanhados foram quantificados e expressos em porcentagem, conforme demonstrado no Gráfico 4. Esta análise permite uma melhor compreensão da distribuição das intervenções realizadas, classificadas segundo os sistemas orgânicos envolvidos. A abordagem percentual se justifica devido aos fatos de: nem todas as afecções diagnosticadas requeriam tratamento cirúrgico; e alguns pacientes necessitaram de múltiplos procedimentos em uma única intervenção. Gráfico 4 - Cirurgias/Procedimentos acompanhados pela estagiária no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná do dia 10 de fevereiro ao dia 11 de abril de 2025. Fonte: Elaborado pela autora (2025). Cavidade Oral 3% Auditivo 1% Oftalmológico 5% Hepatobiliar/ Endócrino 2% Gastrointestinal/ Digestório 10% Genitourinário 9% Tegumentar 15% Hemolinfático/ Hematopoiético 5% Respiratório 2% Cardiovascular 1% Neurológico 8% Reprodutor Feminino 15% Reprodutor masculino 2% Musculoesquelético 22% Auditivo 1% Oftalmológico 5% Hepatobiliar/Endócrin o 1% Gastrointestinal/ Digestório 24% Genitourinário 11% Tegumentar 10% Hemolinfático/ Hematopoiético 4% Neurológico 4% Reprodutor Feminino 18% Reprodutor masculino 6% Musculoesquelético 16% 51 3. RELATO DE CASO 3.1. NEOPLASIA INTRAPÉLVICA DE MÚSCULO LISO ASSOCIADA A MEGACÓLON EM PACIENTE CANINO 3.1.1. Revisão de literatura 3.1.1.1. Anatomia do cólon e da cavidade pélvica O intestino grosso em caninos e felinos é composto por ceco, cólon e reto (Horst et al., 2021). O cólon tem início no esfíncter ileocólico, que estabelece a comunicação entre o íleo e o cólon ascendente, possuindo também uma comunicação com o ceco por meio do orifício cecocólico, localizado aproximadamente um centímetro caudal do orifício ileocólico (Fossum, 2021). Anatomicamente, o cólon divide-se em três segmentos: ascendente, transverso e descendente. Nos caninos, o cólon ascendente é curto e posiciona-se cranialmente à direita, enquanto o cólon transverso se dispõe da direita para a esquerda, cranial à raiz do mesentério. O cólon descendente, por sua vez, é a porção mais extensa, percorrendo o lado esquerdo da raiz do mesentério em direção caudal e, ao adentrar a cavidade pélvica, continua como reto (Konig et al., 2011; Horst et al., 2021). Para a identificação da junção colorretal são usados pontos de referência, os quais são: a borda púbica, a entrada pélvica, a sétima vértebra lombar e o ponto de penetração seromuscular da artéria retal cranial (Fossum, 2021). Sua parede é composta pelas camadas mucosa, submucosa, camada muscular e peritônio (serosa). A mucosa do intestino grosso não apresenta vilosidades intestinais, possui glândulas alongadas, retas e células caliciformes produtoras de muco (Horts et al., 2021). As funções do intestino grosso envolvem a reabsorção de água, o que determina a consistência do conteúdo fecal, armazenamento do conteúdo e secreção de muco para facilitar o trânsito intestinal (Rowe, 2020; Konig et al., 2011; Coelho, 2023). A microbiota colônica é composta predominantemente por bactérias anaeróbias como Streptococcus, Lactobacillus, Bacteroides e Clostridium, e bactérias aeróbias gram-negativas sendo citadas Escherihia coli e Klebisiella spp, e gram-positivas como a Sthaphylococcus spp. e a Enterococcus spp. (Fossum, 2021). Esses 52 microrganismos fermentam resíduos alimentares e secreções endógenas não absorvidas no intestino delgado. A inervação intrínseca é mediada pelo sistema nervoso entérico, através dos plexos de Meissner (submucoso) e Auerbach (entre as camadas muscular longitudinal e circular), que regulam a motilidade e secreção por meio da percepção do conteúdo intestinal. A inervação extrínseca é fornecida pelo sistema parassimpático, cujas fibras estimulam a musculatura lisa (Figura 18) (Dyce et al., 2004; Konig et al., 2021). Figura 18- Representação esquemática da secção transversal do intestino. Fonte: Konig et al., 2021. A irrigação do intestino grosso é fornecida pelas artérias mesentéricas cranial e caudal. O cólon ascendente recebe a vascularização do ramo cólico (porção proximal) e da artéria cólica direita (porção distal), ambos ramos da artéria ileocólica. O cólon transverso é irrigado pela artéria cólica média, terceiro ramo da artéria mesentérica cranial. A artéria mesentérica caudal de menor calibre, origina-se da aorta abdominal e ramifica-se em: artéria cólica esquerda que irriga o cólon descendente e a artéria retal cranial, responsável pela vascularização da porção cranial do reto. O sistema venoso acompanha o arterial, formando as veias mesentéricas cranial e caudal, que convergem para a veia porta. Estas drenam o sangue venoso de todos os órgãos abdominais ímpares, exceto o reto terminal (Konig et al, 2021) (Figura 19). 53 Figura 19- Representação esquemática do Íleo (7); ceco (8); cólon ascendente (9); Cólon transverso (10); Cólon descendente (11); artéria mesentérica cranial (16); artéria ileocólica (17); artéria cólica direita (18); artéria cólica esquerda (19); artéria mesentérica caudal (20); artéria retal caudal (21). Fonte: Popesko, 1997. A pelve óssea é formada pela articulação de dois ossos coxais que se unem ventralmente na sínfise pélvica e se conectam dorsalmente ao sacro e às primeiras vértebras caudais. Cada osso coxal é composto por três partes: ílio, púbis e ísquio. O ílio, localizado na região dorsocranial, estende-se obliquamente do acetábulo até o sacro. O púbis, em formato de “L”, é constituído pelo corpo, ramo acetabular (cranial) e ramo sinfisário (caudal), abrigando ainda a maior parte do forame obturador, por onde passa o nervo obturador. O ísquio articula-se com o púbis ventralmente na sínfise pélvica. A sínfise pélvica é uma articulação fibrocartilaginosa, firme, porém, não rígida. Quanto às funções, a pelve protege as vísceras pélvicas, auxilia na manutenção da postura e atua na transmissão eficiente de forças dos membros pélvicos para o tronco durante a locomoção, além de se dilatarem sob resposta hormonal durante o parto, em fêmeas (Figura 20 e Figura 21) (Konig et al., 2016). 54 Figura 20- Visualização cranioventral dos ossos coxais de um cão. Fonte: Konig et al., 2021 Figura 21- Vista medial de uma secção paramediana dos ossos coxais, sacro e vertebras caudais de um cão. Fonte: Konig et al., 2021. O ísquio faz parte da formação da circunferência caudal do forme obturador por meio de seus dois ramos: o sinfisiário e o acetabular. Seus ramos mediais formam a parte caudal da sínfise pélvica e o seu corpo compõem uma porção do acetábulo. 3.1.1.2. Sarcoma de tecidos moles Os sarcomas de tecidos moles (STMs) constituem um grupo heterogêneo de neoplasias mesenquimais malignas, derivadas do ectoderma primitivo ou mesoderma 55 embrionário. Conforme Daleck et al (2016), esses tumores derivam de tecidos conjuntivos, incluindo adiposo, neurovascular, muscular e fibroso. Em virtude de sua ampla diversidade histológica, os STMs englobam diversos subtipos como fibrossarcoma, lipossarcoma, leiomiossarcoma, tumor maligno da bainha de nervo periférico (TMBNP), rabdomiossarcoma, sarcoma sinovial e sarcomas indiferenciados, os quais apresentam características morfológicas e comportamentos biológicos semelhantes. (Cartagena et al., 2021). Os STMs podem surgir em qualquer localização anatômica, mas apresentam maior incidência no tecido cutâneo e subcutâneo, correspondendo entre 9% à 15% de todos os tumores nessas regiões (Castro, et al., 2019). Sua localização na cavidade pélvica é considerada relativamente rara, com uma prevalência estimada entre 5-8% dos STMs (Garcia et al, 2018). Em um estudo realizado por Grimes et al. (2021), observou-se que os órgãos intracavitários de maior prevalência são o baço (32%) e o trato gastrointestinal (28%). Dentre os subtipos histológicos mais frequentes na cavidade pélvica e no trato gastrointestinal, o leiomiossarcoma destaca-se como o mais comum, tendo origem principalmente no músculo obturador interno. No que diz respeito à localização intrapélvica, conforme Bernstein (2021), a região retroperitoneal é a mais acometida (45% dos casos), seguida pela área adjacente ao cólon/reto (30%). O mesmo autor relata que, dentre os STMs intrapélvicos, 68% dos casos apresentavam invasão óssea pélvica e 91% dos tumores maiores que 5 cm causavam obstrução intestinal parcial. Além disso, em 12% dos casos observou-se megacolón secundário (Bernstein, 2021). Em cães, os Sarcomas de Tecidos Moles (STMs) apresentam maior prevalência em animais de porte médio a grande e em indivíduos de meia-idade a idosos, com idade média no momento do diagnóstico variando entre 10 a 11 anos, não havendo consenso entre autores sobre predisposições raciais ou sexuais específicas (Cavalcanti, 2019). O desenvolvimento de STMs em locais de traumas ou inflamações crônicas está descrito tanto em seres humanos quanto em animais. Segundo Cavalvanti (2019), esses sítios incluem áreas de tecido cicatricial pós cirúrgicos, locais de queimaduras térmicas ou químicas, e regiões adjacentes a implantes plásticos ou metálicos. Na medicina veterinária a aplicação de vacinas e outros fármacos, bem 56 como a presença de corpos estranhos, têm sido associados ao desenvolvimento de STMs em pacientes felinos, embora os fatores desencadeantes da sua oncogênese sejam desconhecidos (Cavalcanti, 2019). Os STM’s caracterizam-se pela formação de massas firmes com crescimento centrífugo, que promove compressão dos tecidos adjacentes de menor resistência. Esse padrão de crescimento resulta na formação de uma pseudocápsula de consistência macia a firme, constituída por tecido normal comprimido e atrofiado (Castro et al., 2019). Embora a pseudocapsula possa atuar como uma barreira ao crescimento tumoral, lesões de alto grau frequentemente apresentam crescimento acelerado, levando à ruptura dessa estrutura e à subsequente infiltração dos tecidos circundantes (Cavalcanti, 2019). Dessa forma, os STM’s exibem padrão de crescimento localmente invasivo, com capacidade de infiltração ao longo dos planos fasciais profundos. Caracteristicamente, essas neoplasias apresentam margens histologicamente mal definidas, o que dificulta sua excisão completa (Oliveira et al., 2024). Os sarcomas de tecidos moles (STMs) podem variar significativamente em tamanho e apresentar aderência a estruturas cutâneas, musculares ou ósseas. Embora seu potencial metastático seja considerado baixo – com rara ocorrência em linfonodos regionais - tumores de alto grau (grau III), apresentam taxa metastática de aproximadamente 40%, sendo os pulmões o sítio preferencial de disseminação hematogênica (Hendrick et al., 1998; Ehrart, 2005). O sistema de Avallone et al. (2022), baseado em atipia celular, índice mitótico (≥10/HPF) e necrose tumoral, permite estratificação prognóstica: tumores de baixo grau (I) associam-se a maior sobrevida pós-ressecção completa. Para tumores intrapélvicos, 45% apresentam comportamento de baixo grau quando submetidos a ressecção ampla com margem profunda (Grimes et al.,2021). Tabela 5 - Demonstração dos graus de malignidade de STM’s conforme suas respectivas características. Característica Grau I Grau II Grau III Atipia Leve Moderada Marcada Mitoses/10 campos <5 5-10 >10 57 Necrose Ausente ou mínima (>10%) Focal (10-30%) Extensa (>30%) Sobrevida (mediana) >24 meses 12-18 meses <6 meses Fonte: Avallone et al., 2022. O sistema de classificação apresenta limitações inerentes à subjetividade na avaliação da atipia celular e necrose tumoral, que varia conforme a interpretação do patologista. Adicionalmente, a confirmação diagnóstica de STMs frequentemente requer imuno-histoquimica, visto que lesões benignas e malignas podem exibir graus histopatológicos semelhantes, particularmente em casos de baixo grau (Alvallone et al., 2022). A distinção histológica precisa mostra-se clinicamente pouco relevante, considerando que a maioria dos STM compartilham comportamento biológico similar e protocolos terapêuticos análogos (De Nardi et al., 2016; Avallone et al., 2022). O diagnóstico de sarcoma de tecidos moles exige uma abordagem integrada, combinando avaliação clínica, exames complementares e análise histopatológica (Vail et al., 2019). As manifestações clínicas variam conforme a localização e grau de malignidade, apresentando-se geralmente como massas firmes, infiltrativas e indolores, exceto quando comprimem estruturas adjacentes. Os casos intrapélvicos frequentemente cursam com constipação, tenesmo e disúria (Bernstein, 2021). A citologia por punção aspirativa (PAAF) constitui um método valioso para triagem inicial, permitindo diferenciar processos inflamatórios de neoplasias malignas. Contudo, suas limitações incluem a baixa esfoliação de células mesenquimais e a possibilidade de obtenção de amostras não representativas (Cavalcanti, 2019; De Nardi, et al., 2016). Além disso, para a correta interpretação pelo patologista é de extrema importância uma descrição detalhada da massa, bem como do histórico clínico (Cavalcanti, 2019). O diagnóstico definitivo requer análise histopatológica, que além de confirmar a natureza da lesão, permite sua graduação (I-III), fator decisório na determinação do prognóstico e planejamento terapêutico. A biópsia incisional representa o método de escolha para coleta de amostras, devendo-se evitar áreas necróticas ou inflamadas (Castro, et al., 2016). A avaliação pós-cirúrgica das margens tumorais é igualmente essencial para estimar o risco de recidivas (Daleck et al., 2016). A imuno-histoquímica complementa o diagnóstico, auxiliando na diferenciação 58 dos subtipos tumorais. Entretanto, sua interpretação deve considerar possíveis expressões cruzadas e heterogeneidade tumoral (Goldblum et al., 2014; Miettinen et al., 2019). Embora incomuns, as metástases linfonodais devem ser investigadas, especialmente em casos de alto grau (De Andrade et al., 2024). Os exames laboratoriais pré-operatórios são fundamentais, principalmente em casos intracavitários, que podem apresentar anemia, leucocitose ou alterações hepáticas e renais. A avaliação por imagem, incluindo radiografia torácica, ultrassonografia abdominal e métodos avançados como tomografia computadorizada e ressonância magnética, são imprescindíveis para o estadiamento e o planejamento cirúrgico (De Nardi et al., 2016). Segundo De Nardi (et al., 2016), muitos tumores ao exame físico aparentam ser pequenos e não aderidos, porém após a realização da tomografia ou ressonância se mostram desafios cirúrgicos ou casos inoperáveis devido sua localização, características infiltrativas e tamanho. O estadiamento final baseia-se nos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) com adaptações mais recentes propostas por Withrow & MacEwen (2019) e pelo Veterinary Cooperative Oncology Group (2022) (Tabela 6 e Tabela 7), considerando características clínicas, histopatológicas e de extensão da doença. Esta abordagem sistemática permite uma avaliação abrangente do paciente, orientando as decisões terapêuticas de forma individualizada. Tabela 6- Critérios para estadiamento de STMs. Categoria Definição T (Tumor Primário) T1 Tumor ≤ 5 cm superficial (a) ou profundo (b) T2 Tumor > 5 cm de diâmetro em sua maior dimensão, superficial (a) ou profunda (b) N (Linfonodos Regionais) N0 Sem evidência de metástase em linfonodos N1 Metástase confirmada em linfonodo regional 59 Categoria Definição M (Metástase à Distância) M0 Sem metástase à distância M1 Metástase detectada (pulmão, fígado, peritônio, etc.) Fonte: OMS; Withrow & MacEwen (2019); VOCG (2022). Tabela 7- Estádios de Sarcoma de Tecidos Moles. Estágio Características Estágio I T1, N0, M0 (baixo grau histológico) Estágio I Qualquer T, N0, M0, grau histológico I e II Estágio II T1 a ou b, T2a, N0, M0, baixo grau histológico Estágio III T1 ou T2, N1, M0, qualquer grau Estágio IV Qualquer T, qualquer N, M1, metástase presente Fonte: Withrow & MacEwen (2019) O tratamento de eleição para STMs consiste na excisão cirúrgica com margens laterais e profundas adequadas (≤3cm). Em casos de tumores grau I, a cirurgia pode ter caráter curativo, muitas vezes dispensando terapias complementares (De Nardi et al., 2016; Cavalcanti, 2019; VCOG, 2022). O planejamento cirúrgico deve considerar cuidadosamente a localização, tamanho e graduação histopatológica do tumor (Daleck et al., 2016) , sendo que margens amplas estão associadas a taxas de recidivas inferiores a 15%, enquanto margens inadequadas podem resultar em até 70% de recorrência (Withrow & MacEwen, 2019). É importante ressaltar que tecidos conjuntivos e adiposos não devem ser considerados como margens seguras, sendo frequente a necessidade de técnicas reconstrutivas para o fechamento de defeitos cirúrgicos (De Nardi et al., 2016). Nos casos de excisão incompleta, seja por planejamento inadequado ou localização desfavorável, recomenda-se reintervenção cirúrgica (com margens de 0,5- 60 1cm) ou radioterapia adjuvante, devido alto risco de recidivas (Daleck et al., 2016; De Andrade et al., 2024). Para STMs intracavitários, o planejamento pré-operatório detalhado com auxílio de tomografia é essencial, podendo exigir técnicas como hemipelvectomias parciais ou totais em casos avançados (Withrow et al., 2017). Alternativas menos invasivas como pubectomias parciais têm demonstrado resultados promissores, com taxas de ressecção completa em 83% dos casos (10/12) e menor morbidade comparada à hemipelvectomia total (Schwarz et al., 2017). Pacientes submetidos à pubectomia apresentam recuperação funcional mais rápida (3 versus 6 semanas) e menores taxas de complicações (15% versus 40%) (Bacha et al., 2021). Contudo, estás técnicas são contraindicadas quando há invasão de nervo ciático, vasos ilíacos ou órgãos pélvicos. Em casos selecionados, técnicas de reconstrução pélvica com enxertos ósseos ou próteses podem preservar a função do membro em 80% dos pacientes expostos a cirurgias mais agressivas, como hemipelvectomias totais (Bacha et al., 2020). Como adjuvantes terapêuticos, a radioterapia apresenta melhor resposta, enquanto a quimioterapia com doxorrubicina é reservada para casos de margens comprometida, alto grau histológico ou recidiva (Bacha et al., 2020). Esta abordagem estratificada permite otimizar os resultados oncológicos e funcionais, adaptando-se às características individuais de cada caso. 3.1.1.3. Leiomioma Os leiomiomas são neoplasias benignas de origem mesenquimal, derivadas de células do músculo liso. Caracterizam-se por serem compostos por células musculares lisas bem diferenciadas, com baixa atividade proliferativa e ausência de invasão tecidual ou metástase (Meuten, 2017). Quanto a sua distribuição anatômica, esses tumores ocorrem com maior frequência no trato gastrointestinal (estômago, esôfago e intestino), em casos raros o reto é acometido. Em fêmeas, principalmente inteiras, o útero e região vulvaginal são sítios comuns (Withrow et al., 2013). Macroscopicamente, os leiomiomas apresentam-se como nódulos firmes, bem circunscritos, homogêneos e encapsulados. Microscopicamente, observam-se células fusiformes (alongadas) organizadas em feixes, com baixo índice mitótico (<1 mitose 61 por campo de alta magnificação) (Goldschmidt & Hendrick, 2002). Os leiomiomas possuem crescimento e progressão lenta, raramente ultrapassando 5 cm de diâmetro (Withrow et al., 2013). Embora não apresentam capacidade metastática, podem causar complicações significativas, como obstruções intestinais ou compressão uretral devido ao seu padrão de crescimento expansivo. Em fêmeas há comprovada influência hormonal, com estrogênio e progesterona estimulando o desenvolvimento dessas neoplasias, particularmente nos tumores uterinos e vaginais (Sontas et al., 2009). O hiperestrogenismo prolongado está associado à sua ocorrência e pode levar a complicações como piometra ou hidrometra (Meuten, 2017). Esses tumores são mais frequentes em animais adultos a idosos, com média de 10 anos no momento do diagnóstico, apresentando maior predisposição em fêmeas não castradas (Meuten, 2017). O diagnóstico diferencial é crucial, sendo a histopatologia essencial para distinguir leiomiomas (com mitoses raras e ausência de invasão) de leiomiossarcomas (com mitoses ≥2 por campo e padrão infiltrativo) (Withorow et al., 2013; Meuten, 2017). A ultrassonografia revela lesões homogêneas e bem delimitadas nos leiomiomas, enquanto os leiomiossarcomas frequentemente apresentam margens irregulares. Outro importante diagnóstico diferencial são tumores estromais gastrointestinais (GISTs), que se diferenciam pela positividade para CD117 (c-KIT) na imuno- histoquímica, enquanto os leiomiomas expressam actina e desmina (Meuten, 2017). A maioria dos leiomiomas gastrointestinais é assintomática, mas podem manifestar-se através de obstruções parciais (disquezia, disúria), úlceras ou hemorragias (hematêmese, melena) (Dos Santos et al., 2021). Já os leiomiomas vaginais/vulvares frequentemente causam estranguria, corrimento vaginal ou formação de massa visível (Meuten, 2017; Ettinger et al., 2017). Casos clínicos relatados recentemente destacam que, o tempo de evolução dos sinais clínicos pode ser demorada devido a característica de lento crescimento dos leiomiomas, como exemplificado por Dos santo et al. (2021), que apresentou um caso de um leiomioma intrapélvico que ocupava 80-90% do canal pélvico, e o quadro descrito por Muñoz el al. (2021), referente a um leiomioma extraluminal vesical, ambos enfatizando que mesmo tumores benignos podem levar a complicações significativas. Na literatura há o consenso de que leiomiomas devem ser diagnosticados por métodos complementares, cuja abordagem varia conforme a sua localização. O 62 exame físico, incluindo palpação retal ou vaginal, representa a primeira etapa na investigação dessas neoplasias. A ultrassonografia destaca-se como método fundamental para caracterização das massas, enquanto a radiografia contrastada auxilia no diagnóstico diferencial com outras patologias e na avaliação de efeitos compressivos (Klein et al., 2011). Os métodos de imagem avançada, particularmente a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, possuem maior acurácia diagnóstica, especialmente para lesões intrapélvicas. Estas técnicas permitem delimitação precisa das dimensões tumorais, avaliação do grau de invasão local, planejamento cirúrgico detalhado e exclusão de critérios sugestivos de malignidade (Klein et al., 2011). A confirmação diagnóstica definitiva requer análise histopatológica, que nos leiomiomas revela características específicas: células fusiformes com núcleos alongados de extremidades rombas, organizadas em feixes, e baixa atividade mitótica, tipicamente com menos de uma mitose por campo de alta potência (Meuten, 2017). A imuno-histoquimica complementa essa avaliação, demonstrando positividade para actina de músculo liso e desmina, enquanto se mantém negativa para marcadores de malignidade (Meuten, 2017; Goldschimit et al., 2002). Essa abordagem diagnóstica integrada, combinando exames de imagem e análise histopatológica, possibilita a identificação precisa desta neoplasia, adequado planejamento terapêutico e a determinação de um prognóstico favorável, característico dessas neoplasias benignas. O tratamento padrão para leiomiomas consiste na excisão cirúrgica completa da massa, método considerado curativo na maioria dos casos. Entretanto, a abordagem cirúrgica apresenta desafios específicos conforme a localização tumoral, incluindo aderência a órgãos adjacentes, acesso limitado à lesão, obstrução luminal e fragilidade tecidual (Fossum, 2021). Particularmente nos tumores intrapélvicos, destacam-se como principais dificuldades: a proximidade com estruturas uretrais e retais (com alto risco de lesão esfincteriana e consequentemente incontinência), o espaço cirúrgico restrito pela anatomia pélvica estreita, o controle hemorrágico em lesões submucosas intestinais e a necessidade de margens cirúrgicas adequadas para evitar recidivas (Klein et al., 2011; Fossum, 2021). Para leiomiomas do trato reprodutivo, a ovariohisterectomia associada ou não à excisão local (no caso de tumores vaginais pedunculados) constitui o tratamento de escolha. Em casos específicos – como tumores pequenos e assintomáticos ou 63 pacientes com alto risco anestésico - a conduta conservadora é preferível à intervenção cirúrgica (Klein et al., 2011; Fossum, 2021). O prognóstico pós-operatório é geralmente excelente, com taxas de cura superior a 90% após ressecção completa. As principais complicações incluem estenose uretral/intestinal e incontinência urinária/fecal, particularmente em neoplasias localizadas na uretra e intestino grosso (Withrow et al., 2013; Meuten, 2017). A elaboração de um planejamento cirúrgico detalhado e, quando necessário, a combinação de diferentes técnicas operatórias são fundamentais para garantir a excisão completa da lesão e o manejo adequado de possíveis intercorrências. 3.1.1.4. Megacólon A dilatação patológica e persistente do cólon, acompanhada da diminuição ou ausência de motilidade (hipomotilidade ou atonia), que resulta em acúmulo de fezes ressecadas e constipação grave é denominada megacólon (Ettinger et al., 2017). Essa condição pode ser classificada como primária (congênito/idiopático) ou secundário a outras afecções. Em cães, o megacólon é consideravelmente mais raro do que em felinos, principalmente devido às diferenças fisiológicas no trato gastrointestinal. Os cães apresentam maior motilidade colônica intrínseca e menor predisposição a desenvolver disfunções primárias de inervação colônica que é a principal causa do megacólon idiopático felino (Jargens, 2017; Gaschen et al., 2020). O megacólon idiopático está associado a anormalidades congênitas e à degeneração dos plexos nervosos intramurais. Já o megacólon secundário geralmente ocorre devido a obstruções mecânicas (como estenose pélvicas pós- fratura, tumores e corpos estranhos), doenças neuromusculares (incluindo hipotireoidismo e disautonomia), inflamações crônicas (como colite) e a fatores ambientais como dieta pobre em fibras, sendo este o mais comum em caninos (Nelson et al., 2019; Tilley et al., 2020). O megacólon secundário por obstrução mecânica desenvolve-se de forma progressiva. Na fase de obstrução inicial (fase aguda), ocorre compressão extrínseca do cólon ou reto, causada por exemplo por massas pélvicas ou corpos estranhos, reduzindo o lúmen e impedindo a progressão das fezes. Essa obstrução inicial desencadeia distensão localizada, com acúmulo de fezes proximalmente ao local 64 afetado e edema da parede intestinal (Washabau et al., 2016). Quando a obstrução perdura por mais de 72 horas, inicia-se a fase crônica, caracterizando o megacólon estabelecido. Nesse estágio, ocorrem alterações neuromusculares degenerativas, com lesão dos plexos mioentéricos (especialmente os plexos de Auerbach), o que compromete definitivamente a motilidade colônica (Washabau et al., 2016). A distensão prolongada também causa hipotrofia das fibras musculares lisas, reduzindo sua capacidade contrátil e levando à atrofia. Como mecanismo compensatório, há dilatação progressiva do cólon, que atinge diâmetro superior a 1,5 vezes o normal, associada à hipotonia. A estase fecal resultante favorece a proliferação de bactérias anaeróbias, agravando ainda mais a distensão. Simultaneamente, ocorre intensa reabsorção de água pelas criptas colônicas, levando à formação de fezes ressecadas e impactadas (Washabau et al., 2016). As consequências sistêmicas incluem toxemia bacteriana, que pode evoluir para sepse, além de desequilíbrio hidroeletrolítico secundário a vômitos e anorexia, com desenvolvimento de desidratação e hipocalemia. Em casos extremos a pressão intraluminal elevada pode resultar em perfuração colônica (Washabau et al., 2016). Os principais sintomas associados ao megacólon incluem disquesia, hematoquezia, obstipação, incontinência fecal, anorexia/hiporexia, vômito, hematêmese e tenesmo. Episódios de diarreia aquosa também podem ocorrer devido a inflamação da mucosa causada pelo impacto fecal, embora as secreções inflamatórias geralmente não sejam suficientes para amolecer as fezes (Galrito, 2013). O diagnóstico inicia-se com uma anamnese detalhada e é confirmado pela palpação abdominal e retal, que permite identificar dilatação colônica, fezes endurecidas, estenoses ou tumores, onde pode-se observar obstipação caracterizada pelo cólon dilatado com fezes endurecidas. Deve-se considerar ainda a possibilidade de hérnias perineais secundárias ao tenesmo crônico. Afecções locomotoras que impedem o animal de adotar a posição de defecação devem ser descartadas por meio de exame ortopédico e radiográfico. Exames laboratoriais são essenciais para excluir causas secundárias, como insuficiência renal crônica, que pode levar a obstipação devido à desidratação ou desbalanços hidroeletrolíticos, e avaliar complicações como endotoxemia, azotemia e distúrbios eletrolíticos. Segundo Pratschke et al. (2018), hipocalemia, hipocloremia, desidratação, leucocitose e azotemia pré-renal são achados frequentes, necessitando 65 de correção pré-cirúrgica. Na avaliação por imagem, a radiografia abdominal é superior à ultrassonografia para detectar dilatação colônica e impactação fecal, enquanto a ultrassonografia destaca-se na identificação de obstruções (neoplasias, corpos estranhos) e na avaliação da espessura da parede intestinal (Garcia et al., 2021). A tomografia computadorizada, por sua vez, oferece precisão anatômica, detectando complicações (por exemplo: perfurações) e diferenciando megacólon primário de secundário, sendo crucial para o planejamento cirúrgico (Bertoloni et al., 2016). Estudos demonstram sua sensibilidade de 98% contra 75% da radiografia convencional em casos obstrutivos. Complementarmente, a colonoscopia permite a visualização de obstruções intraluminais e coleta de biópsia (Gaschen et al., 2020). Silva et al. (2022) reforçam a importância de uma abordagem multimodal, especialmente em casos secundários a massas obstrutivas, nos quais a histopatologia é fundamental para orientar a conduta terapêutica posterior. A abordagem terapêutica do megacólon varia conforme sua causa de base, podendo ser clínico ou cirúrgico. A terapia clínica inclui fluidoterapia intravenosa com cristaloide, com reposição de potássio em casos de hipocalemia grave, e o uso de laxante como a lactulose (0,5-1mL/Kg, 2-3x/dia) e pro-cinéticos como a cisaprida (0,1- 0,5 mg/Kg, 2-3x/dia), sendo este último contraindicado em obstrução completa (Washabau et al., 2016). Enemas com solução fisiológica, fosfato sódico ou água morna podem ser realizados sob sedação, associados à antibioticoterapia com metronidazol (10-15mg/kg, 2x/dia) para infecções secundárias (Baez et al., 2019) e analgesia por meio da administração de butorfanol (0,2-0,4mg/kg) para desconforto abdominal (Washabau et al., 2016). O manejo dietético é fundamental, com aumento de fibras brutas para estimular o peristaltismo e oferta de alimentos úmidos ou água adicionada a dieta para hidratação fecal. No entanto, em casos avançados, o excesso de fibras pode agravar a impactação, exigindo avaliação individualizada de cada paciente (Washabau et al., 2016). Em casos refratários e em casos de megacólon secundário a obstrução mecânica é indicado o tratamento cirúrgico (Baez et al., 2019). As técnicas cirúrgicas incluem a colectomia subtotal, com remoção de 80-95% do cólon, preservando a válvula ileocecal e 1-2cm do reto, seguida de anastomose cólico- retal ou ileorretal com sutura em dois planos (fio 3-0 ou 4-0 mononylon) em padrão 66 simples contínuo. As principais complicações pós-operatória são deiscência da anastomose (5-10% dos casos) e diarreia transitória (Fossum, 2021). Para tumores ou corpos estranhos localizados, emprega-se a ressecção segmentar, com margens de 1-2cm além da lesão e anastomose término-terminal, associada à linfadenectomia regional em casos neoplásicos. Em estenoses pós traumáticas ou neoplasias extramurais, técnicas de reconstrução pélvica (osteotomia pélvica, pubectomia e hemipelvectomia) são necessárias para melhor exposição cirúrgica, bem como para correção da alteração primária (Fossum, 2021). A colotomia é utilizada para a remoção de corpos estranhos, em casos selecionados de biópsias de massas intraluminais ou intramurais ou descompressão em megacólon agudo. A colectomia total é recomendada quando mais de 50% do cólon estiver comprometido, em neoplasias invasivas ou megacólon crônico (Fossum, 2021; Silva et al., 2022). No pós-operatório, administram-se opioides como buprenorfina (0,02mg/kg, 8/8h) ou metadona (0,02mg/kg, 8/8h), anti-inflamatórios não esteroidais como meloxicam (0,1mg/kg/dia), exceto em casos contraindicados (Silva et al., 2022). A dieta deve ser liquida nas primeiras 24 horas, seguida por alimentação pastosa pobre em fibras por sete dias, com transição gradual para dieta rica em fibras após duas semanas (Fossum, 2021; Castro et al., 2017). O monitoramento do paciente, inclui avaliação diária de sinais vitais e função intestinal, com auxílio de ultrassonografia para detecção precoce de complicações (Galrito, 2013; Bertolini et al., 2016; Fossum, 2021). 3.1.1.5. Pubectomia A pubectomia constitui um procedimento cirúrgico empregado no manejo de obstruções da cavidade pélvica, incluindo casos de megacólon, massas intrapélvicas e estenoses pélvicas congênitas ou traumáticas. Está técnica possibilita uma ampliação do espaço pélvico, facilitando o acesso às estruturas anatômicas, particularmente ao cólon descendente e reto (Bojrab et al., 2013; Fossum, 2021). O procedimento envolve a ressecção parcial ou completa do osso púbico, podendo ser executada de forma unilateral ou bilateral, conforme as necessidades clínicas. 67 O posicionamento do paciente em decúbito dorsal é fundamental para a realização do procedimento, sendo recomendada a sondagem uretral prévia para identificação e proteção da uretra durante a intervenção cirúrgica. A abordagem inicia- se com a laparotomia exploratória mediante incisão ventral na linha média, estendendo-se cranialmente até a região pré-púbica. Em pacientes machos requer-se a lateralização do pênis para adequada exposição do campo cirúrgico. A dissecção do tecido subcutâneo permite a exposição da musculatura pélvica, compreendendo os músculos gráceis e adutores, os quais devem ser cuidadosamente elevados em plano subperiósteo para preservação das estruturas neurovasculares adjacentes, particularmente os nervos obturadores (Fossum, 2021; Bonatto et al., 2022). O tendão pré-púbico é seccionado longitudinalmente ao longo da face cranial do púbis, seguindo-se a realização de perfurações estratégicas nos locais previamente determinados para osteotomia púbica e isquiática. A utilização de serra sagital, associada à proteção dos nervos obturadores mediante emprego de afastador de Hohmann, assegura a execução da osteotomia (Piermattei et al., 2017). Ressalta- se que a osteotomia deve ser 1-2 cm lateralmente à sínfise púbica, a fim de evitar lesões ao nervo pudendo e estruturas vasculares adjacentes. Após a elevação do músculo obturador interno e lateralização do segmento pélvico ventral, obtém-se adequada visualização dos órgãos intrapélvicos. Conforme preconizado por Fossum (2021), a reinserção do tendão pré-púbico e o fechamento meticuloso da musculatura pélvica devem ser realizados com fio poliglactina 910 ou polidiaxanona (PDS) 2-0 a 3-0, conforme o porte do animal, empregando-se padrão de sutura contínua simples ou pontos separados. O fechamento do subcutâneo com poliglecaprone 25 em padrão contínuo e da pele com naylon 3-0 ou 4-0, em pontos separados ou padrão intradérmico, encerra o procedimento. A Figura 22 exemplifica a técnica relatada por Fossum (2021). A preservação do nervo pudendo durante a dissecção ventral do púbis e execução da osteotomia é de grande importância, visto que lesões nesta estrutura podem resultar em incontinência urinária (Piermattei et al., 2017; Fossum, 2021). De igual criticidade é a proteção da artéria e veia pudendas internas, que cursam ventralmente ao púbis. Entre as complicações associadas à técnica destacam-se incontinência urinária por injúria nervosa, fraturas pélvicas pós-operatórias, hemorragias e 68 comprometimento da deambulação, fatores que contribuem para a relativa restrição no emprego deste procedimento (Fossum, 2021; Bonatto et al., 2022). Figura 22- Representação da técnica de pubectomia descrita por Fossum (2021). Fonte: Fossum, 2021. A literatura especializada consolida o entendimento de que a fixação do púbis pós osteotomia ou pubectomia não constitui procedimento padrão, principalmente em quadros de megacólon, conforme reforçam os principais autores da área (Bojrab, 2013; Piermattei et al., 2017; Fossum, 2021). Este consenso fundamenta-se no princípio de que a manutenção do espaço pélvico ampliado é essencial para o alívio da obstrução, sendo a cicatrização fibrosa considerada suficiente para gerar estabilidade à região pélvica, levando em consideração que dentro de três dias os animais voltam a deambular, podendo apresentar alguma dificuldade. Entretanto, observa-se uma distinção nos protocolos em casos de intervenções ortopédicas ou traumáticas. Fossum (2021) ressalta que, em situações específicas como fraturas pélvicas ou osteotomias corretivas, a fixação do púbis pode ser indicada, empregando-se técnicas como cerclagem com fios metálicos ou utilização de placas ósseas. Esta abordagem diferenciada justifica-se pela necessidade de restabelecimento da integridade anatômica e função biomecânica da pelve nestes casos. Estudos como os de Yoon&Man (2008) relatam a eficácia de fios de PDS 0, enquanto Bonatto e colaboradores (2022) destacam os bons resultados obtidos com fios de cerclagem convencional (Figura 23). Estes achados sugerem que, embora não seja rotina na abordagem do megacólon e massas intrapélvicas, a reconstrução 69 púbica apresenta-se como alternativa viável quando devidamente indicada e executada com técnicas apropriadas. Esta dualidade de condutas deixa explicito a importância da avaliação criteriosa de cada caso, considerando tanto a etiologia da afecção quanto os objetivos terapêuticos específicos. Enquanto a abstenção de fixação permanece como conduta padrão para os casos de obstrução pélvica crônica, as técnicas de osteossíntese revelam-se valiosas no manejo das disfunções pélvicas. Figura 23- Reimplantação púbica por meio de fios de cerclagem realizada por Bonatto et al. Fonte: Bonatto et al., 2022. O manejo pós-operatório deve incluir analgesia multimodal, combinando opioides como metadona (0,1-0,3mg/kg IV/SC a cada 6-8horas) ou tramadol (2- 4mg/kg VO ou SC a cada 8-12 horas) e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) como o carprofeno (2-4mg/kg VO a cada 12 horas) ou meloxicam (0,1mg/kg VO/SC/IV a cada 24hrs), visando controle eficaz da dor e redução da inflamação (Fossum, 2021). Recomenda-se restrição de movimento estrita por 2 a 4 semanas e uso de colar elizabetano para evitar eventuais lambeduras no local da incisão. Deve-se monitorar ativamente a micção e defecação, visto que lesões iatrogênicas no nervo pudendo ou obturador podem resultar em retenção urinária ou incontinência. Além disso, avaliações seriadas da cicatrização cirúrgica, bem como seu 70 manejo de limpeza com solução fisiológica devem ser realizados com o intuito de prevenir e acompanhar distúrbios secundários como infecção e necrose tecidual. A função locomotora também deve ser avaliada constantemente para identificar precocemente complicações como instabilidade, incapacidade de deambulação, ou fraturas pélvicas secundárias. A fisioterapia pode ser benéfica em casos de dificuldade de deambulação, bem como o auxílio na deambulação do animal pode ser exercido por meio do apoio com cobertas/toalhas (Fossum, 2021; Bonatto et al., 2022). 3.1.1.6. Colotomia A colotomia consiste em uma incisão cirúrgica no cólon para acesso à luz intestinal. Embora não seja a técnica de primeira escolha, está indicada em casos de remoção de corpos estranhos impactados, biópsia de lesões neoplásicas ou inflamatórias, correção de estenose, descompressão de obstruções (como no megacólon) e para o tratamento de perfurações colônicas ( Smeak, 2020; Fossum, 2021; Prastiti et al., 2024). A preparação pré-operatória é fundamental, incluindo jejum de 12 a 24 horas para reduzir o conteúdo fecal, lavagem colônica (em procedimentos eletivos) com enemas ou cateterização retrógrada, e antibióticoterapia profilática com cefalosporinas ou metronidazol para minimizar infecções por anaeróbios (Fossum, 2021). A técnica cirúrgica consiste no acesso à cavidade por meio de uma incisão ventral medial, estendendo-se do xifoide ao púbis. A área afetada é então localizada por meio da celiotomia, sendo o cólon descendente a região mais comumente abordada, e então feito seu isolamento com compressas estéreis para evitar contaminação peritoneal. A incisão, de aproximadamente 3cm, é feita na borda anti-mesentérica (Smeak, 2020; Prastiti et al., 2024). Após a remoção do conteúdo patológico, o fechamento é realizado em dois planos: mucosa/submucosa (com fio absorvível PDS 4-0 em padrão contínuo ou interrompido) e seromuscular (com sutura invaginante, como Cushing ou Lembert, também utilizando PDS 4-0) (Smeak, 2020). Para lesões circunferenciais, a colotomia transversal é preferível devido ao menor risco de estenose. 71 A lavagem da cavidade abdominal com solução salina morna é essencial em casos de extravasamento de conteúdo, reduzindo a contaminação (Fossum, 2021). Adicionalmente, testes de vazamento com solução salina devem ser realizados para verificar a integridade da sutura (Prastiti et al., 2024). Fossum (2021) ressalta que cirurgias colorretais apresentam elevado risco de infecções, destacando a importância da técnica asséptica e do manejo profilático adequado, com a administração perioperatória de antibióticos como a cefalotina (20- 40mg/kg IV, repetido a cada uma hora e meia a duas horas de procedimento. As principais complicações relatadas incluem deiscência de sutura, frequentemente associada a tensão excessiva, má vascularização ou infecção, manifestando-se por febre, dor abdominal e leucocitose, exigindo reintervenção cirúrgica imediata. Outras complicações graves são a estenose pós-operatória e peritonite fecal, está última é considerada emergência cirúrgica (Smeak, 2020). Em casos de magacólon crônico, a colotomia pode ter caráter paliativo, sendo a colectomia subtotal a abordagem preferencial para resolução definitiva (Fossum, 2021). A cicatrização do cólon, embora semelhante à do intestino delgado, é mais lenta e sujeita a maiores taxas de deiscência. Essa diferença deve-se à vascularização colateral reduzida, à elevada carga bacteriana (anaeróbia e aeróbia) e à pressão intraluminal durante a passagem das fezes sólidas. Uma cicatrização adequada depende de suprimento sanguíneo preservado, aposição precisa da mucosa, trauma cirúrgico mínimo e fechamento sem tensão (Fossum, 2021). Os cuidados pós-operatório devem ser individualizados, com monitoramento rigoroso de vômitos, regurgitação e sinais de dor, controlados com analgésicos como butorfanol (0,2-0,4mg/kg IV, IM, SC) ou buprenorfina (5-10µg/kg IV, IM a cada 4- 8horas). A correção de desequilíbrios hidroeletrolíticos e acidobásicos é essencial, mantendo fluidoterapia intravenosa até a normalização da ingestão oral. Laxantes (lactulose 1ml/4,5kg VO a cada 12-24horas em cães; 5ml/gato VO a cada 8-8horas) ou emolientes fecais (dioctil sulfossuccinato de sódio 50-200mg VO a cada 8-12horas em cães; 50mg VO a cada 12-24horas em gatos) são indicados para facilitar o trânsito intestinal. A antibioticotera